
O setor da saúde está em plena transformação. Se os últimos anos foram marcados pela resposta a choques pandémicos, escassez de profissionais e digitalização forçada, 2026 traz um novo capítulo: foco no envelhecimento ativo, tecnologias preditivas e uma redefinição do que significa “cuidar”. Neste artigo, reunimos as principais tendências macro que irão moldar a saúde em Portugal e no mundo nos próximos 12 meses — e analisamos o que significam para hospitais, clínicas, startups e investidores.
Digital Health: da promessa à maturidade operacional
A saúde digital já não é apenas uma tendência — é hoje uma componente essencial dos sistemas de saúde modernos. Até 2026, prevê-se que cerca de 80% dos hospitais públicos e privados em Portugal utilizem plataformas de registo eletrónico de saúde (RES) interoperáveis, facilitando o acesso e a partilha segura de informação clínica. A telemedicina deverá representar mais de 30% das consultas de especialidade em zonas não urbanas, contribuindo para uma maior equidade no acesso à saúde. Paralelamente, aplicações de monitorização e dispositivos wearables passarão a ser recomendados por profissionais de saúde como parte dos planos terapêuticos.
Contudo, a transformação digital na saúde vai além da tecnologia — exige mudanças culturais, organizacionais e formativas. Clínicas e unidades de saúde que já adotaram plataformas de Digital Health integradas estão a obter resultados notáveis: redução do absentismo em 20%, melhoria na adesão a tratamentos de doenças crónicas e otimização dos recursos clínicos, através de triagem automatizada e algoritmos de apoio à decisão. A digitalização inteligente é, cada vez mais, sinónimo de melhor cuidado e maior eficiência.
O que muda em 2026?
A digitalização passa de projeto-piloto para sistema produtivo, interoperabilidade e segurança de dados serão cruciais, e a maturidade digital das organizações será medida pela integração real com a jornada do paciente.
Envelhecimento da população: mais longevidade, mais exigência
Portugal é atualmente um dos países mais envelhecidos da Europa, e em 2026 mais de 25% da população terá mais de 65 anos. No entanto, envelhecer já não significa apenas viver mais tempo — é essencial garantir qualidade de vida, autonomia e bem-estar.
Entre as principais tendências estão o crescimento dos serviços de saúde domiciliária com integração digital, a expansão das residências assistidas (“senior living”) e o aumento da oferta de seguros e planos de saúde focados na prevenção.
Para startups e empresas que desenvolvam soluções em tecnologia assistida, saúde preventiva ou serviços personalizados para idosos, este é um setor com enorme potencial de crescimento.
Saúde mental como prioridade transversal
A pandemia e os desafios económicos recentes colocaram a saúde mental no centro das atenções. Em 2026, ela será encarada não apenas como uma questão clínica, mas como um pilar essencial do bem-estar, da produtividade e da coesão social.
A transformação já está em curso: hospitais integram psicologia nos cuidados primários, empresas investem em apoio psicológico e liderança empática, e aplicações de bem-estar mental ganham popularidade entre todas as idades. A grande tendência? A saúde mental tornar-se parte integrante da medicina preventiva, com cobertura pelas seguradoras e protocolos bem definidos.
Inteligência Artificial e Machine Learning na prática clínica
Em 2026, a inteligência artificial (IA) deixará de ser apenas uma promessa futurista e passará a integrar o dia a dia dos sistemas de saúde como uma ferramenta concreta de apoio à decisão — tanto clínica como administrativa. O objetivo não é substituir médicos ou enfermeiros, mas sim potenciar a sua atuação com dados em tempo real, triagem inteligente e análise preditiva.
Entre as principais aplicações em expansão destacam-se: leitura automatizada de exames de imagem com maior rapidez e precisão, algoritmos para prever descompensações em pacientes crónicos e assistentes digitais no acompanhamento pós-consulta.
Exemplo concreto: um hospital privado em Lisboa implementou IA na triagem de urgência, utilizando tablets para recolher sintomas dos pacientes e classificá-los automaticamente. O impacto foi claro — 18 minutos a menos no tempo médio de atendimento.
Sustentabilidade e saúde ambiental no radar estratégico
O setor da saúde é responsável por cerca de 5% das emissões globais de CO₂, tornando-se um dos focos centrais das estratégias de sustentabilidade em 2026. Cada vez mais, hospitais, clínicas e laboratórios reconhecem que cuidar da saúde humana exige também cuidar da saúde do planeta.
As novas exigências são claras: projetos de investimento público na área da saúde devem incluir planos obrigatórios de eficiência energética e gestão de resíduos hospitalares. Equipamentos médicos e medicamentos passam a ser avaliados não apenas pelo desempenho clínico, mas também pelo seu impacto ambiental ao longo do ciclo de vida.
Além disso, a construção de novas unidades de saúde já incorpora conceitos como arquitetura biofílica, mobilidade sustentável e políticas de compras verdes. Uma tendência em crescimento é a publicação de relatórios ESG por parte de grupos privados, laboratórios e seguradoras — reforçando o compromisso com a transparência e a responsabilidade ambiental no setor da saúde.
Personalização na saúde: do tratamento à experiência do utente
Com os avanços da genómica, da inteligência artificial e do mapeamento comportamental, 2026 será um marco para a medicina personalizada. A saúde torna-se cada vez mais centrada no indivíduo, com terapias adaptadas ao perfil genético, planos de bem-estar desenhados com base em dados e experiências de consulta ajustadas às preferências de cada paciente — seja presencial, digital ou híbrida.
Um exemplo prático vem de um grupo de clínicas no Norte, que criou perfis digitais de pacientes para personalizar a comunicação, os lembretes e até a linguagem das prescrições. O resultado? Um aumento de 27% na adesão ao tratamento.
Integração dos sistemas público e privado com foco no cidadão
A fragmentação entre cuidados primários, especializados e continuados tem sido, há anos, um dos maiores entraves à eficácia do sistema de saúde português. Em 2026, porém, observa-se um movimento consistente no sentido de integrar estas vertentes, colocando finalmente o paciente no centro da rede de cuidados.
Este esforço traduz-se em várias iniciativas concretas, como a criação de protocolos de partilha de dados entre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e prestadores privados, permitindo um acompanhamento mais contínuo e informado. Algumas regiões já adotaram plataformas integradas com sistemas de agendamento comuns, facilitando a articulação entre diferentes níveis de cuidado.
Além disso, começam a ser testados modelos de pagamento baseados em valor (value-based care), onde o financiamento é associado aos resultados clínicos obtidos, e não apenas ao volume de atos praticados. O grande desafio continua a ser garantir a segurança e privacidade dos dados dos pacientes, assegurando a interoperabilidade entre sistemas conforme as normas europeias.
Financiamento e incentivos à inovação em saúde
O setor da saúde continua a ser um dos principais beneficiários dos fundos europeus, com destaque para o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e o novo Portugal 2030. Estes programas financiam iniciativas estratégicas que impulsionam a transformação digital e a inovação clínica. As áreas prioritárias incluem a digitalização dos serviços de saúde, a modernização do equipamento hospitalar, projetos de investigação e desenvolvimento em biotecnologia, inteligência artificial e envelhecimento, bem como o apoio a startups healthtech em fases de validação ou expansão.
Para obter financiamento, as candidaturas devem demonstrar claramente o impacto nos cuidados prestados — seja na melhoria do acesso, na elevação da qualidade dos serviços ou no aumento da eficiência operacional. Projetos que comprovam resultados mensuráveis e alinhamento com as metas nacionais de saúde tendem a ser mais bem-sucedidos.
Conclusão: 2026 é o ano da maturidade e integração
O setor da saúde enfrenta em 2026 o desafio de deixar para trás os silos, a reatividade e os modelos centrados na doença. O futuro será das instituições e empresas que souberem:
- Integrar tecnologia com humanização;
- Medir impacto com rigor e agir com rapidez;
- Investir em parcerias estratégicas entre público, privado, academia e startups.
Na Macro Consulting, acompanhamos estas tendências de perto e ajudamos instituições de saúde, empresas e investidores a preparar-se para um futuro mais resiliente, eficiente e centrado no bem-estar.
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Fonte: Investimento em tecnologia na saúde cresce 8% até 2026