Antes de conseguirmos decidir se optamos pela sucessão ou venda de uma empresa é relevante conhecer a fundo as opções que temos em cima da mesa. Analisando as suas vantagens e desvantagens, e cada cenário de forma individual, pode-se tomar as decisões da forma mais acertada e realista possível. Sem uma análise e estudo prévio as decisões entre a sucessão e uma venda de uma entidade podem levar a perdas desnecessárias.
Sucessão familiar na empresa
A sucessão é um dos maiores desafios que as empresas familiares enfrentam. Não é um evento único, mas um processo de mudança complexo que precisa de ser gerido e planeado atempadamente. A sucessão é um momento único e crucial durante a vida de um negócio que, se realizada adequadamente, pode resultar em inovação e no reforço da sustentabilidade do negócio. Caso contrário, pode colocar em causa empregos e as relações construídas com as partes interessadas, como fornecedores e clientes.
No geral, os negócios familiares são vistos como um legado, isto é, algo que irá acompanhar uma família durante a sua história. Assim sendo, é comum ver que as famílias costumam estar muito envolvidas na empresa, podendo ver que estas tendem a possuir cargos administrativos mais elevados. No entanto, fazer a separação entre assuntos pessoais e assuntos familiares poderá ser difícil. Por norma, os empreendedores acabam por colocar pressão nos filhos no que concerne à continuidade do negócio, mas, por vezes, esta sucessão não é realizada entre herdeiros diretos ou dentro da família. A contratação de um CEO para assumir a posição máxima dentro da organização, ou mesmo a promoção de uma liderança que se destacou por sua forte lealdade ao negócio, são opções que também devem ser consideradas.
A incerteza sobre se os membros juniores terão ou não as aptidões, vontade e experiência para gerir uma empresa são as principais preocupações que os fundadores das empresas familiares têm sobre como manter a gestão nas mãos de um ou mais membros da família.
A melhor maneira é antecipar os problemas e fazer as coisas com a maior transparência possível, nomeadamente, prestando informações a toda a família sobre suas intenções e estabelecendo um programa de ações calendarizado até deixar o comando da empresa, promovendo a divulgação da informação necessária para abrir a Gestão da empresa, através de uma análise objetiva sobre o presente da sociedade, valores, planos, constrangimentos, oportunidades etc.
Não obstante, é necessário ter respostas a algumas questões antes sequer de perceber e entender um processo de sucessão familiar, sendo a título de exemplo:
- Se o empreendedor tem mais que um filho, qual deles deve assumir a sua posição?
- Quais serão os critérios para a seleção do sucessor?
- Quanto estarão os sucessores capacitados para fazer parte da organização?
- Os seus propósitos e valores estão alinhados com o que a empresa tem como objetivo e cultura?
- Como será a continuidade de quem já trabalha na organização com a mudança para uma nova geração de empreendedores?
Existem muitas questões que deverão ser tomadas em conta numa fase inicial deste processo, e as suas respostas devem ser do conhecimento de todos, isto é, da família, sócios, líderes, colaboradores e organização como um todo, para que ocorra com o menor número de conflitos possíveis, tanto pessoais, quanto profissionais, gerando somente impacto positivo para o negócio e todos os envolvidos.
O ideal é preparar a sucessão com pelo menos cinco a dez anos de antecedência. Esse tempo será necessário para avaliar os sucessores, treiná-los, transmitir os valores da empresa e prepará-los para serem bem-sucedidos.
Venda de uma empresa
O processo de venda é extremamente complexo, essencialmente quando toca a uma entidade. Não se trata apenas de uma troca monetária por um edifício, mas sim uma troca de valores, objetivos, cultura e funcionários. É essencial estar por dentro deste processo antes de avançar com a divulgação da alienação de modo a evitar falhas e potenciais perdas monetárias. Não obstante, é importante conhecer o momento mais oportuno para a alienação, pois esta não deve ser aleatória uma vez que poderá trazer consequências negativas para o vendedor. Fazer a escolha de vender parte ou a totalidade do negócio que um empreendedor ou a sua família trabalharam arduamente para construir é uma grande decisão e muitas vezes é precedida por profunda introspeção.
As vendas ocorrem tanto de empresas para pessoas (conhecido como vendas B2C), de empresas para empresas (vendas B2B). Recorrendo a esta opção, é crucial determinar o valor da empresa. Saber o valor da entidade influencia, diretamente, o processo de alienação da mesma, uma vez que esta pode aliciar a venda (ser um valor atrativo) ou pode inviabilizar. Determinar o valor da empresa inclui imensas vertentes que devem ser tomadas em conta, nomeadamente: comercial, marketing, capital, entre outros. Assim, determinar o preço correto para a empresa é essencial. Existem vários métodos para atingir um número-base, sendo que o ideal é combinar métodos, avaliando o mercado atual, tendências económicas e levando em conta as vendas de negócios semelhantes que tenha conhecimento. Consultar um avaliador profissional é a decisão mais correta e é vista como uma certificação mais fiável e favorável pelos potenciais compradores.
Qual a melhor opção?
Não se pode afirmar que a melhor opção é realizar uma sucessão ou vender uma empresa. Esta decisão mais correta neste sentido depende de vários fatores subjacentes, tais como:
- Existe um sucessor?
- Quais as características/habilitações do sucessor?
- Qual a relação entre os sucessores da empresa?
- Existirá mais valor na sucessão ou na venda da empresa?
- Qual o valor de venda da empresa?
Além destas questões, podemos mencionar muitas outras. O importante é analisar caso a caso e verificar qual a opção mais vantajosa para a entidade.
De forma geral, no caso de existir um sucessor com as habilitações certas e com a ambição de dirigir a entidade, tende-se a optar pela sucessão. Não havendo sucessão, ou seja, não havendo descendentes naturais que possam dar continuidade ao negócio, a venda da empresa surge como a alternativa direta, mas implica também uma antecipação e um planeamento adequado para evitar problemas maiores. A sucessão é um marco de extrema importância nas empresas familiares, uma vez que, ao acarretar mudança, traz alguma instabilidade, o que pode ser uma limitação à sua continuidade, embora possa ser também uma oportunidade de crescimento. O número de empresas a planear a sucessão tem aumentado, embora quase sempre esse plano seja elaborado sem o apoio de especialistas na área pelo que pode revelar-se deficiente para resolver problemas maiores.
Portanto, o que podemos dizer relativamente a esta questão é que não existe uma resposta certa a dar, uma vez que esta depende de múltiplos fatores. É necessário analisar caso a caso e entender se as vantagens da venda de uma empresa prevalecem a de uma sucessão, ou vice-versa.
Exemplo
Podemos supor alguns casos por forma a exemplificar o que se deve pensar em cada caso:
Caso 1:
Existe um membro na família do gestor da empresa cujas habilitações académicas estão dentro da área de gestão, economia e finanças. Sabe-se também que, além disso, a pessoa em questão apresenta uma vasta experiência profissional na área e apresenta vários conhecimentos essenciais para tomar possa na entidade.
Ora, neste caso, a venda da empresa não é a mais vantajosa. Neste caso, na venda da empresa adquiríamos uma grande quantia quase imediata, sendo um lucro obtido a curto prazo. No entanto, uma vez que existe uma pessoa na família com as características necessárias para dar continuidade ao negócio e estando este em situação económica e financeira favorável, é benéfico para a família em questão recorrer a uma secessão. Nesta situação, os lucros da família continuaram a curto, médio e longo prazo.
Caso 2:
As gerações mais jovens da família não têm habilitações académicas ou, os que têm são em áreas bastante diferentes das previamente requisitadas para a direção de uma empresa (exemplo: artes, medicina, arquiteto, mecânica).
Acontece que, caso estas pessoas apresentem formação extra que esteja de acordo com a direção de uma entidade e seus conceitos básicos, o facto de ter formação académica noutra área ou não ter habilitações académicas mais baixas não invalida a sua capacidade de enfrentar este desafio. Não obstante, há outros fatores a ter em conta como os valores e crenças que possuem comparativamente com as que estão a ser levadas a cabo na empresa. É extremamente importante avaliar todo o perfil comportamental dos possíveis futuros gestores. Assim, é necessário conhecer os seus propósitos a nível individual e como estes os conciliam com o negócio e o seu objetivo e valores, por forma a entender como este conciliará as duas vertentes para que se alcance uma posição de liderança, afastando eventuais conflitos.
Nesta etapa, os fundadores e os possíveis sucessores devem passar por um profundo processo de autoconhecimento, compreendendo mais sobre si, sobre os seus desejos, objetivos, visão de futuro e propósitos, para posteriormente alinhar a perceção individual de cada um sobre a situação atual e o desejo futuro para o negócio. Após esta avaliação e entender se as pessoas na família estão aptas para assumir um cargo de tamanha importância. caso contrário, a venda da empresa será a melhor opção.
Conclusão
Em suma, é importante analisar detalhadamente toda a situação envolvente à entidade e todas as características que reúnem as pessoas da família candidatas à sucessão (caso existam). É necessário, além disso, entender o valor acrescentado destas pessoas para o negócio, de forma a evitar que a imagem da empresa regrida devido a uma má implementação de uma sucessão. É crucial olhar de maneira realista e imparcial para os possíveis herdeiros e sucessores, avaliando quais são os seus pontos fortes e fracos, projetando o futuro de cada um e lidando com situações que envolvem toda a complexidade da gestão de um negócio, assim como das relações familiares. Caso contrário, a venda será uma alternativa imediata no caso de o gestor pretender sair do negócio, seja qual for o meu motivo.
Fontes:
- https://ewp-portugal.com/venda-de-empresas/sucessao-empresarios-ou-venda-empresa/
- https://nomadorange.pt/blog/sucessao-nas-empresas-familiares/
- https://www.redalyc.org/journal/5680/568060413003/html/
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