É sabido que a primeira grande vaga de fusões e aquisições ocorreu em 1897, sendo que, a partir daí, estes foram processos que se destacaram pelo seu crescimento faseado, que ocorria durante importantes momentos económicos vividos ao longo dos diversos países.
Tendo em conta o ambiente bastante competitivo vivido pelas empresas, as mesmas necessitam de inovar constantemente os seus processos produtivos, tendo sempre presente estratégias de negócio bem definidas.
Entre estas estratégias, encontram-se os processos de fusões e aquisições. Estes são cada vez mais comuns a nível global, não só pelo número de fusões e aquisições feitas, como também pelos montantes monetários envolvidos nestes processos.
Neste sentido, as fusões e aquisições, nos dias de hoje, consistem num processo cada vez com maior relevância em Portugal, sendo um processo ao qual várias empresas recorrem para conseguirem atingir determinados objetivos, de forma mais rápida, no mercado no qual se situam e atuam.
Mas afinal, o que são fusões e aquisições?
Por fusão entende-se o processo no qual se dá a junção de duas ou mais empresas, as quais deixam de existir de forma individual, tornando-se numa única nova empresa.
Assim sendo, o processo de fusão envolve duas ou mais empresas que decidem alinhar os seus respetivos patrimónios de modo a formar uma nova sociedade comercial. Na maior parte dos casos, as fusões de empresas envolvem empresas de dimensão relativamente semelhante.
Uma fusão pode, ainda, ser considerada amigável ou hostil, dependendo de como a mesma foi dirigida. Por outras palavras, é considerada amigável ou hostil conforme seja bem aceite ou não por ambas as partes.
Assim sendo, uma fusão amigável pode ser definida como uma mudança no dono cooperativo, sem que esta seja acompanhada pela mudança no controlo de gestão. Estas fusões acabam também por se traduzir numa forma de aumentar o capital humano em proveito da gestão para a empresa alvo.
Por outro lado, uma fusão hostil define-se como uma compra que, apesar de bem-sucedida, não tenha sido solicitada e que resulta na substituição da gestão da empresa alvo. Quando alguma entidade decide analisar informação acerca de outra para efetuar uma possível fusão, esta poderá utilizar um gestor que possua uma elevada capacidade para conseguir detetar falhas de uma gestão ineficaz e de aproveitar a oportunidade que essa ineficácia providencia.
Com toda a informação necessária em sua posse, adquirida sem o conhecimento da empresa alvo, ou seja, através da recolha de informação por parte do gestor e não através da análise de dados que sejam públicos, se a entidade desejar efetuar uma fusão, esta é também considerada uma fusão hostil.
Há duas formas distintas de as fusões se realizarem: por concentração ou por incorporação.
- Por concentração – quando existe a criação de uma nova empresa, sendo para esta transferido o património das empresas incorporadas, sendo atribuídas aos acionistas quotas ou ações conforme o negociado durante o processo.
- Por incorporação – quando o património da empresa alvo passa todo para a empresa que a incorpora, sendo que os sócios da empresa incorporada recebem ações ou quotas.
Adicionalmente, as fusões podem ser ainda classificadas de três formas distintas: horizontais, verticais ou de conglomerado.
- Horizontais – quando ambas as entidades operam no mesmo ramo de atividade. Neste caso, quando duas ou mais empresas do mesmo ramo de atividade realizam uma fusão e produzem o mesmo produto, obtêm uma maior quota de mercado e tornam-se mais competitivas face aos seus concorrentes.
- Verticais – quando o foco está na fonte das matérias-primas ou na direção do consumidor final. Neste caso, são fusões entre empresas que se situam em diferentes fases da cadeia de produção e distribuição de determinado produto ou serviço, tendo como objetivo o controlo da produção de determinados produtos, a redução de custos e a atuação de forma mais direta no mercado.
- Conglomerado – quando duas empresas não possuem nenhum tipo de interesse comum, não utilizam os mesmos fornecedores e não competem com nenhum dos mesmos concorrentes e, ainda assim, decidem fusionar-se. Neste caso, a fusão ocorre quando os investidores do conglomerado criado decidem estabelecer uma forte presença em dois mercados completamente diferentes.
Por sua vez, uma aquisição consiste no processo através do qual uma empresa adquire grande parte, ou até a totalidade, das ações em circulação de uma outra empresa, ou dos seus ativos, de modo a adquirir o controlo sobre essa mesma empresa.
A aquisição de mais de 50% das ações ou de outros ativos da empresa alvo da aquisição permite à empresa que as adquiriu a tomada de decisões sobre os ativos que adquiriu, sem necessitar da aprovação dos restantes acionistas da empresa.
Em ambos os casos, pode-se mencionar que decorre uma integração das operações, da organização, da estratégia e do controlo do capital.
Comummente, a empresa considerada adquirente é de maior dimensão do que a adquirida ou incorporada. Apesar disso, é possível também verificar a aquisição de uma empresa de maior dimensão por parte de uma mais pequena. Tal pode ser possível através do recurso a linhas de financiamento externo.
As razões que podem justificar a ocorrência de fusões e aquisições são da mais variada índole, passando pela estratégia de mercado, pela obtenção de sinergias, a melhoria da eficiência na afetação recursos ou, então, porque surgiu a oportunidade de comprar uma empresa por um valor inferior ao seu valor intrínseco real.
Estas podem, ainda, ser transfronteiriças, sendo que, nesse caso, são uma forma de reduzir a dependência das empresas face ao financiamento externo de capital, no qual a empresa com capital disponível pode enviar à outra o capital do qual necessita. Com a evolução institucional e financeira, principalmente com o processo de integração europeia, dá-se a promoção de fusões e aquisições transfronteiriças.
Podem as fusões e aquisições ser usadas como forma de capitalização?
Em 2019, dados mais recentes adquiridos através do Instituto Nacional de Estatística, o tecido empresarial português era constituído por 1 318 330 empresas (não financeiras), das quais 99,9% eram micro, pequenas e médias empresas (PME).
Ora, a autonomia financeira consiste na autonomia financeira global de uma empresa, indicando em que medida o ativo total líquido acaba por ser financiado por capitais dos próprios acionistas/sócios.
No que concerne à autonomia financeira das PME portuguesas, apesar de existir uma tendência positiva que lhes é associada, em 2019 os capitais próprios representavam 39,9%, em termos médios, dos ativos das empresas com esta dimensão. Assim sendo, verifica-se que, quanto maior for o capital próprio, maior a capacidade de uma empresa alavancar a sua empresa sem recurso a capitais alheios, ou seja, sem recurso a financiamento externo. Para além disto, capitais próprios superiores podem indicar uma maior solvabilidade da empresa.
Tendo em conta que os banco concedem relativamente mais crédito a empresas com maior capacidade de gerarem rendimento que lhes permita saldar a dívida, assim como a empresas com maior disponibilidade para apresentar colateral como garantia dos empréstimos, verifica-se que grande parte das PME portuguesas são afetadas por restrições ao crédito.
Tendo em conta que as PME procuram crédito sobretudo para o financiamento da sua atividade corrente e não para investimento, dificuldades de financiamento quer via capitais próprios, quer por restrições a financiamento externo, colocam em risco a sobrevivência de empresas desta dimensão. Assim, é fundamental a capitalização das PME para garantir a sua sobrevivência e, simultaneamente, do tecido empresarial nacional de modo a dotar as empresas e a economia portuguesa de maior competitividade.
Mas serão as fusões e aquisições uma solução para a capitalização das empresas?
De facto, alguns estudos comprovam que as fusões e aquisições geram um capital próprio combinado das empresas alvo e adquirente superior ao verificado antes da operação. Para além disso, existem outros efeitos observáveis sobre as empresas envolvidas.
No que diz respeito aos efeitos positivos, existem estudos que concluem que, em média, as empresas fusionadas ou adquiridas observam os seus lucros a aumentarem, apesar de as suas vendas diminuírem. Estes resultados são semelhantes ao longo de vários países, mas de destacar que na Europa a diminuição nas vendas observada após processos de fusão e aquisição é inferior.
Quais as previsões para o mercado de fusões e aquisições em 2022?
Como sabido, o cenário atualmente vivido caracteriza-se por dificuldades financeiras acrescidas fruto da pandemia vivida, assim como pela turbulência causada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, cenários estes que exigem cautela.
Ainda assim, existe capital a ser investido, mas aconselha-se que haja um reforço das due diligence.
Começando pelo ano 2021, este foi um ano no qual se registaram valores recorde a nível global, ano este de recuperação após o cenário menos favorável vivido em 2020 fruto da pandemia. Ora, em 2021, o mercado de fusões e aquisições registou um total de 553 processos, apresentando um crescimento de 31% em comparação com o período homólogo do ano anterior, assim como 2% relativamente ao capital mobilizado. De referir também que foram registadas, no quarto trimestre, 142 fusões e aquisições, não só anunciadas, como também encerradas, perfazendo estas um total de 3,2 mil milhões de euros. No que diz respeito a setores de atividade, o setor que registou o maior número de processos foi o das Tecnologias, apresentando 109 processos, seguido do setor Imobiliário, com 86 fusões e aquisições e, por fim, o setor Financeiro e dos Seguros, com 62 processos de fusão e aquisição.
Assim sendo, após os valores recorde atingidos em 2021, o otimismo para 2022 permanece elevado.
Apesar disso, o aumento da inflação, a ameaça de aumento das taxas de juro e uma maior regulação, podem traduzir-se em barreiras financeiras ou estruturais à conclusão de alguns processos de fusão e aquisição em 2022.
Com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia pode verificar-se, desde logo, uma maior volatilidade dos mercados financeiros globais, dando-se também perturbações nas cadeias de abastecimentos globais e maiores valores de dívida fiscal, resultante da disseminação dos efeitos sentidos pela pandemia. Assim sendo, os empresários devem manter-se em alerta para o rápido ritmo ao qual as mudanças podem ocorrer, originando impactos precoces ou não esperados e muito significativos de alguns dos fatores referidos.
Analisando alguns valores, no primeiro trimestre de 2022 registaram-se 98 processos de fusão e aquisição, perfazendo um total de 977 milhões de euros. Relativamente ao período homólogo do ano anterior, estes valores representam uma diminuição de 20% no número de processos de fusão e aquisição, assim como uma diminuição de 74% do capital mobilizado. No que diz respeito a setores de atividade, o setor mais ativo no primeiro trimestre foi o do Imobiliário, registando 25 processos, seguido pelo setor de Negócios & Serviços de Apoio Profissional, com 10 fusões e aquisições.
Neste período, de destacar que a Espanha foi o país que mais investiu em Portugal, com 10 processos, seguida dos Estados Unidos da América, com 8 fusões e aquisições. Por outro lado, as empresas portuguesas investiram principalmente na França e na Itália, com um total de, respetivamente, duas e três fusões e aquisições.
Relativamente ao setor da Tecnologia, setor este que registou um maior número de fusões e aquisições no ano passado, as aquisições estrangeiras no mesmo diminuíram 25% face ao mesmo período de 2021.
Atualmente, de acordo com o relatório relativo a fusões e aquisições da Transactional Track Record, foram anunciados 203 processos de fusão e aquisição em Portugal no primeiro semestre de 2022.
Conclusão
Assim sendo, acredita-se que, apesar do menor valor de fusões e aquisições registadas no primeiro trimestre de 2022, com os valores registados no fim do primeiro semestre a tendência observada em 2021 aparenta ser sustentável para 2022, tendo principalmente em conta que o fluxo de negócios português superou os níveis de 2021, para o mesmo período homólogo.
Existem, portanto, razões para se estar otimista relativamente a um bom desempenho dos processos de fusão e aquisição em 2022, impulsionando um ambiente no qual as taxas de juro fiquem relativamente baixas, pressionando o investimento e o reposicionamento estratégico de várias empresas.
Bibliografia consultada:
- Fusões e aquisições. Otimismo cauteloso pautará atividade de M&A em 2022 – O Jornal Económico (jornaleconomico.pt)
- Mercado de fusões e aquisições português movimenta 19,2MM€ em 2021 | Construir
- Volume de Fusões e Aquisições regista diminuição de 20% no primeiro trimestre de 2022 | Construir
- Mercado Ibérico, Relatórios por Mercado, Publicações – TTR – Transactional Track Record – Transacções, Empresas, Assessores (ttrecord.com)
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