Nos últimos tempos, o tema “subida de combustível” tem sido um dos tópicos mais falados. Temos assistido a oscilações semanais de preços influenciadas, sobretudo, pela guerra na Ucrânia. Com vista a conhecermos melhor a realidade deste setor, decidimos fazer uma análise mais detalhada ao mesmo, numa ótica de MacroReport.
De acordo com os dados disponíveis no sistema de informação Sales Index da Marktest, em maio de 2021, existiam em Portugal 2616 postos de abastecimento, um valor que tem vindo a diminuir nos últimos 2 anos. Este número representa uma taxa de cobertura de 2.5 postos por cada 10 mil habitantes.
No período em análise (2015-2021), observa-se um crescimento até 2018, ano em que o número de postos de abastecimento de combustível atingiu o valor mais elevado (2.742), tendo-se assistido nos últimos 2 anos a um decréscimo, chegando a 2021 com 2.616, tal como se pode verificar na figura que se segue.
O concelho de Lisboa é aquele onde um maior número de postos de abastecimento se concentra, com 61 estabelecimentos, um valor que corresponde a 2,3% do total. Vila Nova de Gaia, com 55, e Sintra, com 51, são os outros concelhos com maior número destes estabelecimentos.
Destes equipamentos, metade (50,4%) está concentrada em 51 dos 308 concelhos do país. Nove concelhos não possuem nenhum posto de abastecimento das marcas em análise.
A Galp é a marca que apresenta uma rede de maior dimensão, com 664 postos em 240 concelhos. Este valor corresponde a 25% do total de postos contabilizados pela Marktest. A Repsol apresenta a segunda maior rede, com 19%, e a BP a terceira, com 18%.
No entanto, apesar de se ter verificado que o número de postos de combustível tendeu a aumentar de 2015 a 2019 e se ter averiguado uma trajetória contrária em 2020 e 2021, as vendas de combustíveis têm mostrado nos últimos anos uma tendência de quebra para valores inferiores à média da década de 90.
A venda de combustíveis tem registado oscilações ao longo de vários anos. Desde 2008 que se observa uma tendência geral para o decréscimo. O valor de 2020 é o sétimo mais baixo da série analisada (ano mais recente obtido neste âmbito), só superior ao observado entre 1984 e 1990, os primeiros anos em análise. Importa realçar que os dados a seguir apresentados não contempla os valores das regiões autónomas.
A nível de concelho, Sines concentra 12,7% do total das vendas, seguido de Lisboa, com 3,0%, e Matosinhos, com 2,6%, o mesmo valor de Alcanena. Vila Franca de Xira representa 2,3% e Leiria 2,1%. Em conjunto, estes seis concelhos concentram mais de um quarto do volume total (25,2%). Pelo contrário, Golegã, Santa Cruz das Flores, Barrancos, Tabuaço e Porto Moniz representam os concelhos com menor volume de venda de combustíveis.
O volume de vendas de combustíveis de 2020 equivale a uma média de 749 Kg por habitante. Sines, Alcanena, Porto Santo, Azambuja e São Roque do Pico são os concelhos com maior volume de venda de combustíveis per capita, ao contrário de Golegã, Tabuaço, Alandroal, Gavião e Idanha-a-Nova, onde se observam os valores mais baixos.
É possível que este valor tenda a diminuir devido ao facto de se assistir a um certo “abandono” no uso dos combustíveis, uma vez que Portugal, juntamente com outros países como Itália, Roménia, Bulgária e Eslováquia preparam-se para tomar uma posição conjunta que contraria a votação do Parlamento Europeu, o qual aprovou o fim da venda de carros a combustão a partir de 2035, ao definir um corte de 100% nas emissões de dióxido de carbono em veículos novos até esta ano, alertou a associação ambientalista Zero. Esta decisão advém do facto de Portugal ser responsável, desde 2019, por 28% das emissões de gases poluentes no país, de acordo com os dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Não obstante, dados do estudo TGI da Marktest mostram que a maioria dos compradores de combustível abastece menos de 20 litros por semana. Isto pode acontecer, essencialmente, pelo facto de o aumento do preço dos combustíveis ser constante, levando as pessoas por optar por estilos de vida diferentes como o deslocamento a pé ou por transportes públicos. Ou, além disso, é possível que os portugueses tendam a abastecer cada vez menos por cada vez que se deslocam a um posto de abastecimento, com esperança que na semana que se segue o preço tenda a diminuir.
Segundo os dados de 2020, de entre os compradores de combustível, a maioria (56,7%) refere abastecer até 20 litros por semana, enquanto 37,9% diz que abastece mais de 20 litros.
É entre os residentes no Grande Porto que se encontram os maiores consumidores do produto, pois 48% dos que compram combustíveis referem abastecer mais de 20 litros por semana. Também os indivíduos dos 35 aos 44 anos, os homens e os pertencentes às classes mais altas apresentam um padrão de consumo acima da média.
Não obstante, um estudo feito pela DecoProtest, a 2021, mostrou que as gasolineiras continuam a aumentar as margens de lucro apesar do preço do petróleo estar em queda, levando os consumidores finais a saírem severamente prejudicados. Assim, segundo a análise da Deco Proteste, que se baseia em dados da Entidade Nacional para o setor Energético (ENSE), o preço do petróleo está em queda, mas os comercializadores de combustíveis continuam sem refletir a desvalorização no preço final pago pelo consumidor. Nesse sentido, as gasolineiras continuam a ver crescer as margens de lucro. A figura que se segue ilustra a informação descrita acima.
Importa analisar o que cada consumidor paga sempre que abastece o seu automóvel. Segundo os dados extraídos do jornal “Expresso”, grande parte do montante pago na caixa dos postos de abastecimento são impostos.
Esta situação é bastante preocupante, uma vez que isto poderá levar, juntamente com a crise vivida, a uma perda de poder de compra por parte dos portugueses, levando a uma menor possibilidade de uso de automóveis e, consequentemente, menos abastecimentos verificados em Portugal, podendo levar este setor a sentir algumas descidas no que concerne ao seu volume de negócios.
Embora desde 2015 a tendência seja de subida, semana a semana os valores de venda ao público vão variando. Nos últimos sete anos o gasóleo teve o seu ponto mínimo em fevereiro de 2016, a 1,01 euros por litro, e a gasolina tocou o seu mínimo (deste período em análise) em abril de 2020, a 1,25 euros por litro.
Os dados relativos ao preço do Brent (o petróleo que é referência nos mercados europeus) mostram que neste período esta matéria-prima teve uma forte volatilidade, com descidas e subidas mais acentuadas do que as observadas no gráfico acima, relativo aos preços de venda ao público. Há uma explicação simples para o facto de as variações na cotação do petróleo serem muito mais acentuadas do que as da gasolina e do gasóleo que são vendidas ao cliente final: a matéria-prima é apenas uma parte da composição do preço de venda ao público (cuja maior fatia são impostos, na sua maior parte ISP, num valor fixo por litro), pelo que uma determinada variação percentual no Brent ou na cotação dos refinados provocará variações de menor amplitude na estação de serviço.
Comparando os preços de venda ao público da gasolina 95 na EU, pode-se verificar que Portugal paga mais que os espanhóis, mas menos que os gregos, italianos, alemães, holandeses, suecos e finlandeses. É sobretudo no Leste da Europa que se vende a gasolina mais barata. Já no que toca ao gasóleo, Portugal é o décimo preço mais alto da UE, atrás de Itália, Irlanda, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Finlândia.
Dados mais recentes
A junho de 2022, segundo a Entidade Nacional para o Setor Energético, o consumo mensal de gasolina e gasóleo registou as seguintes variações:
- – 8,86% face a maio de 2022
- + 1,83% face a junho de 2021
- +5,73% face a junho de 2020
- – 2,31% face a junho de 2019
No que respeita ao preço de venda do gasóleo, entre junho de 2021 e junho de 2022, o preço médio de venda ao público do gasóleo aumentou 57,7 cêntimos o litro (+39,1%), sustentado pelo aumento de 52,2 cêntimos o litro (+75,8%) do preço sem taxas. Já entre maio e junho de 2022, o preço médio de venda ao público do gasóleo subiu 16,5 cêntimos o litro (+8,72%).
Importa referir que, durante o mês de junho de 2022, Portugal foi o sétimo país da União Europeia com um preço médio antes de imposto do gasóleo mais elevado com 1,304 euros o litro. Com os impostos em vigor, Portugal apresentou o décimo terceiro preço de venda mais elevado com 2,016 euros o litro.
Analisando os preços da gasolina 95, percebe-se que entre junho de 2021 e junho de 2022, o preço médio de venda ao público da gasolina 95 aumentou 50,7 cêntimos o litro (+30,3%), sustentado pelo aumento de 74,5 cêntimos o litro (+108,1%) do preço sem taxas. Já entre maio e junho de 2022, o preço médio de venda ao público da gasolina 95 subiu 17,4 cêntimos o litro (+8,68%).
Durante o mês de junho de 2022, Portugal foi o quinti país da União Europeia com um preço médio antes de imposto de gasolina mais elevado com 1,280 euros o litro. Com os impostos em vigor, Portugal apresentou o sexto preço de venda mais elevado com 2,141 euros o litro.
Caso das ilhas
Portugal continental aderiu, em 2004, ao mercado liberalizado dos combustíveis. O Governo, na altura, acenou a medida com a ideia de promover a concorrência e beneficiar os consumidores. Mas associada a esta iniciativa deveria estar «uma adequada monitorização e disponibilização de informação à Administração Pública, por forma a garantir uma concorrência efetiva, assumindo neste quadro um papel de relevo a Autoridade da Concorrência». As regiões autónomas não o fizeram e, como tal, os Governos Regionais tanto dos Açores como da Madeira podem continuar a estabelecer preços máximos.
Assim, a diferença de preços é notória. A junho de 2022, um condutor no Continente pagava 2,214 euros por litro de gasolina, enquanto na Madeira o condutor pagava 2,062 euros por litro. A diferença é de 0,151 cêntimos. Mas o caso muda um pouco nos Açores, onde um condutor pagava pelo mesmo litro de gasolina simples menos 0,411 cêntimos, uma vez que o litro nos Açores esteve a 1,803 euros. Em Portugal Continental custava 2,104 euros por litro e na Madeira 1,777: uma diferença de 0,327 cêntimos. Situação idêntica se passa nos Açores, em que o litro de gasóleo custava 1,747 euros. O que significa que, para abastecer nos Açores, um condutor poupava 0,357 cêntimos por litro.
No entanto, no mês de agosto, verificou-se que há combustíveis que são mais caros nos Açores do que no Continente e na Madeira, refere o PS/Açores, numa nota enviada às redações. Os socialistas apontam que, no período de cerca de um ano, o preço da gasolina nos Açores “aumentou mais de 35%”, o gasóleo nos Açores “aumentou cerca de 55%”, o gasóleo agrícola “aumentou cerca de 100%” e o gasóleo pescas “aumentou cerca de 150%”.
“Até junho deste ano, e segundo dados do próprio Governo Regional, foram cerca de 27 milhões de euros de receita de imposto, face a 28 milhões, em igual período do ano passado”, assinala o PS açoriano.
Combustíveis simples são iguais nos postos de marca e nos “low cost” porque têm a mesma origem?
Esta é uma questão que se coloca muitas vezes e, por questões de análise concorrencial, importa avaliar este tema. Uma publicação feita pelo Polígrafo SIC, vem esclarecer esta questão.
Acontece que, em Portugal, os combustíveis são refinados unicamente em Sines. O combustível que os postos que não são de bandeira (por exemplo, dos hipermercados) vendem, são carregados e selados na mesma ‘boca’ onde carregam para os postos da Galp. São desselados no posto de destino, e são fiscalizados nas viagens inopinadamente pelas autoridades.
De facto, atualmente está em funcionamento apenas uma refinaria em Portugal, que é gerida pela Petrogal, uma empresa do grupo Galp. A refinaria de Matosinhos, que era também administrada pelo mesmo grupo, fechou portas este ano, como noticiou o “Observador”, mas isso não significa que todo o combustível vendido em Portugal seja obrigatoriamente refinado em território nacional.
A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) explica ao Polígrafo que “nem todo o combustível vendido em Portugal vem da refinaria de Sines”, uma vez que “existem operadores no mercado português com acesso a infraestruturas próprias, as quais lhes permitem a importação de produtos refinados”. No entanto, ressalva que “os combustíveis no mercado nacional devem cumprir a legislação que regula as suas características bases, para garantir o correto funcionamento dos motores” e que “é seguro para os veículos dos clientes abastecerem em qualquer posto de abastecimento em Portugal”.
Assim, é verdade que a grande maioria do combustível vendido em Portugal é refinado atualmente em Sines, mas isso não significa que não possa haver importação de combustível para o país caso a produção nacional não seja suficiente para responder à procura. Em qualquer dos casos, tanto o gasóleo como a gasolina – e os outros componentes produzidos – têm de cumprir as regulamentações impostas pelo Governo para poderem ser vendidos.
No entanto, a par com o combustível simples, algumas marcas apresentam versões aditivadas tanto de gasolina como de gasóleo. Estes produtos resultam da mistura do combustível simples com componentes aditivos que têm como objetivo melhorar a performance dos veículos.
Fontes consultadas:
- https://www.marktest.com/wap/a/n/id~2800.aspx
- https://www.marktest.com/wap/a/n/id~2679.aspx
- https://www.marktest.com/wap/pesquisa.aspx?what=COMBUST%C3%8DVEIS&s=N
- https://www.marktest.com/wap/a/n/id~28b2.aspx
- https://www.marktest.com/wap/a/n/id~2878.aspx
- https://eco.sapo.pt/2022/06/23/zero-diz-que-portugal-juntou-se-a-quatro-paises-europeus-para-rejeitar-fim-da-venda-de-carros-a-combustao-ate-2035/
- https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/combustiveis-simples-sao-iguais-nos-postos-de-marca-e-nos-low-cost-porque-tem-a-mesma-origem
- https://www.dinheirovivo.pt/economia/deco-proteste-alerta-para-subida-de-tres-centimos-nos-combustiveis-esta-semana-14404539.html
- https://expresso.pt/economia/2022-03-07-precos-dos-combustiveis-a-ferver.-oito-graficos-sobre-o-que-pagamos-quando-vamos-a-bomba
- https://rr.sapo.pt/especial/economia/2022/03/12/preco-dos-combustiveis-seis-graficos-para-entender-a-subida-do-custo-e-o-peso-dos-impostos/276017/
- https://www.ense-epe.pt/wp-content/uploads/2022/07/Relatorio-Mensal_Julho-2022.pdf
- https://jornalacores9.pt/ps-acores-alerta-para-a-urgencia-de-baixar-o-preco-dos-combustiveis/
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