Em Portugal produziu-se em 2022, cerca de 85 milhões de pares de calçado, dos quais 76 milhões de pares foram exportados, o que corresponde a exportações no valor de 2,009 milhões de euros (marco histórico alcançado, pois é a primeira vez que Portugal ultrapassa a barreira dos 2,000 milhões de euros em exportações setor do calçado).
Com estes números e um crescimento constante nos últimos anos, é de realçar a importância que o setor do calçado desempenha na economia portuguesa, sendo uma das grandes indústrias exportadoras nacionais.
Atualmente o setor do calçado português é reconhecido internacionalmente pela sua alta qualidade e inovação, assim sendo para manter este posicionamento no panorama internacional é estritamente necessário que Portugal consiga acompanhar as novas tendências da indústria, de forma a se manter relevante no mercado.
Calçado Sustentável
Com a crescente preocupação da sociedade em relação à sustentabilidade e ao bem-estar do meio ambiente, a busca por calçados sustentáveis tem se tornado um dos principais fatores considerados pelos consumidores. Como resultado, as empresas portuguesas estão a direcionar a sua atenção para tornar seus processos produtivos mais sustentáveis, desde a aquisição de matérias-primas até o produto final, a fim de otimizar os seus recursos, reduzindo desperdícios e resíduos.
De acordo com dados de 2019, o mercado mundial de calçados sustentáveis foi avaliado em cerca de 7,5 bilhões de dólares, e esse número aumentou para 9,4 bilhões de dólares em 2022. Um estudo de mercado realizado pela Marketresearch.biz prevê que o mercado global de calçados sustentáveis atingirá 14,7 bilhões de dólares até 2032, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 4,7% de 2023 a 2032.
Essa tendência reflete o desejo dos consumidores de adquirir produtos que se alinhem com seus valores ambientais, incentivando as empresas do setor de calçados a adotarem práticas mais sustentáveis e a oferecerem opções de calçados eco-friendly. O aumento da demanda por calçados sustentáveis cria oportunidades para o crescimento e a inovação dentro da indústria do calçado, impulsionando a adoção de materiais reciclados, orgânicos e eco-friendly, além de práticas de produção mais responsáveis.
Com este crescimento a indústria do calçado em Portugal pretende investir 600 milhões de euros até ao final de 2030, sendo que 140 milhões de euros já foram aprovados pelo plano de recuperação e resiliência.
Calçado Inteligente
Estando a tecnologia tão integrada nos nossos dispositivos do dia a dia, o setor do calçado também não poderia ficar de fora, tendendo a que cada vez mais as tecnologias façam parte do nosso vestuário, melhorando o nosso conforto e proporcionando uma diferente experiência ao consumidor.
Ao longo dos últimos anos, a marcas de calçado têm investido muito em tecnologia, nomeadamente no seu processo fabril, de modo a otimizar todas as características do seu produto. Um bom exemplo disso são o segmento dos ténis de corrida, onde as marcas gastam milhares de euros em inovação para proporcionar melhor capacidade de absorção de impactos, melhorar o conforto dos mesmos e reduzir o peso do calçado, sempre com o foco em oferecer uma melhor experiência aos seus clientes.
Porém presença de tecnologia no setor do calçado não fica apenas pelo processo produtivo e desenvolvimento, cada vez mais marcas estão a incorporar dispositivos tecnológicos no seu calçado. Marcas com uma forte componente desportiva como a Adidas ou Nike, por exemplo incorporam nas solas e palmilhas dos seus produtos, vários sensores e microdispositivos, a partir dos quais é possível conectar via Bluetooth com o telemóvel do utilizador e receber em tempo real dados sobre a sua atividade.
Dados como a velocidade, distância percorrida, localização gps, sensores de pressão e de taxa de esforço são fundamentais para os seus utilizadores, nomeadamente atletas e desportistas melhorem a sua performance e analisem os diversos aspetos em que podem evoluir.
Um exemplo de calçado tecnológico, são as sapatilhas da Nike (Adapt BB), na qual incorporam tecnologia para que a sapatilha se adapte a fisionomia do pé do utilizador sem a presença de qualquer atacador.
Utilização de Novas Matérias-Primas no Setor do Calçado
Com a procura por produtos sustentáveis e “amigos do ambiente” a aumentar, a indústria do calçado teve de se adaptar para fazer face a procura dos consumidores.
Utilização de matérias-primas como algodão reciclado estão a ser cada vez mais incorporadas nos processos produtivos da indústria do calçado, sendo os tecidos elaborados com recurso a fios de algodão reciclado, provenientes de roupas usadas e especialmente desenvolvidos para calçado.
Outras matérias-primas também são utilizadas, por exemplo através da recolha de resíduos de plástico encontrados no oceano, é possível, devido a um processo de transformação posterior dar origem ao fio de poliéster reciclado, aplicado depois na fabricação de novos tecidos. Outro exemplo a ter em conta é o couro biodegradável que possui características similares ao couro de origem animal, porém ao invés de incorporar matéria animal está presente apenas matéria de origem vegetal formada através de um preparado de fibras de celulose desidratadas.
A utilização de novas fibras também está a ter um crescimento na sua utilização, plantas como o cânhamo são capazes de produzir a fibra vegetal mais forte e duradora do mundo, para além de ser uma das fibras têxtis mais ecológicas do planeta. Uma das vantagens ambientais para a produção de cânhamo como matéria têxtil é que comparativamente ao algodão, o cânhamo necessita cerca de 3 vezes menos água para se desenvolver, para além de que o cânhamo absorve uma grande quantidade de Co2 e purifica os solos, ao contrário do algodão que uma das suas propriedades é a emissão de Co2 para atmosfera.
Na imagem a baixo está representado um exemplar de uma sapatilha fabricada principalmente a base de fibras de cânhamo, proporcionando um produto resistente, leve, flexível e impermeável.
Assim sendo é de esperar nos próximos anos estas matérias-primas sustentáveis, venham cada vez mais a fazer parte dos vestuários e produtos que consumimos, impulsionando este setor para uma economia circular e sustentável.
Outro fator impulsionador da sustentabilidade é a pressão que as empresas sentem, não só por parte dos consumidores, mas também politicamente, com fortes incentivos a fomentar uma futura economia circular e mais environmentally friendly, com cada vez mais as empresas a se preocupar em cumprir os critérios de sustentabilidade ESG (ambientais, sociais e de gestão empresarial).
Fontes:
Alfa Calçado. (n.d.). ALFA – Materiais Sustentáveis. Alfa Calçado. https://www.alfacalcados.pt/sustentabilidade
Bitalk – Negócios à Portuguesa. (2022, Junho 29). #98: A cannabis é muito mais que uma droga c/ Bernardo Carreira. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=69m1Lu5zX9M&t=371s
MarketResearch.BIZ. (n.d.). MARKET RESEARCH REPORTS. https://marketresearch.biz/
Portuguese Shoes. (n.d.). Portuguese Shoes. https://www.portugueseshoes.pt/en/