Todas as empresas se confrontam com obstáculos no decorrer da sua atividade. Acontece que esses mesmos obstáculos normalmente têm subjacente algumas ameaças e incertezas. Neste contexto, surgem determinados riscos que poderão pôr em causa o bom funcionamento da atividade.
O risco está associado à incerteza, à volatilidade do resultado esperado, à possibilidade de perdas, a algo que não é desejado. O risco refere-se à incerteza que rodeia eventos futuros e resultados. É a expressão da probabilidade e impacto (magnitude) de um evento com potencial para influenciar a realização dos objetivos da empresa. Alguma forma de análise quantitativa ou qualitativa é necessária para a tomada de decisão relativa aos riscos ou ameaças sobre os objetivos da empresa.
Há dois ingredientes que são necessários para o risco existir:
- a incerteza sobre os resultados potenciais de um dado acontecimento
- os resultados têm que importar em termos de utilidade (efeitos positivos ou negativos nos objetivos)
Estes riscos poderão assumir várias formas, sendo elas: risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez, risco operacional, risco de modelo, risco de liquidação, risco regulatório, risco legal, risco fiscal, risco contabilístico, risco político e soberano e risco de negócio.
Não obstante, existem mecanismos para mitigar o risco, sendo um deles o Hedging, sendo que este conceito permite a redução do risco com recurso a instrumentos financeiros que permite a cobertura da exposição ao risco. Este traz bastantes benefícios, designadamente melhorar as decisões de investimento, reduzir a volatilidade dos resultados, maximizar o valor para o acionista, reduzir taxas e custos de transação, entre outros. No entanto, nem tudo é positivo, podendo levar a menores rendibilidades, aumento dos custos, perda de competitividade, etc. O hedging surge associado a políticas e medidas, implementadas com vista à redução da exposição ao risco da empresa e com impacto no seu valor de mercado.
Os estudos empíricos a empresas e mercados confirmam que reduzir a exposição aos riscos de taxa de juro ou taxa de câmbio reduz a variabilidade do preço das ações dessas empresas. Confirmam também que os fluxos de caixa menos voláteis resultam em custos de capital mais baixos e em mais investimento. Assim, as empresas que utilizam derivados como instrumentos financeiros de cobertura apresentam um valor de mercado mais elevado.
A gestão de risco envolve o ajuste dos níveis de risco para níveis apropriados e não necessariamente eliminando o risco por completo. As empresas assumem riscos com o objetivo de gerar retornos que aumentem a riqueza dos seus acionistas/proprietários, sendo que estes últimos arriscam o seu capital com o mesmo objetivo. As empresas devem realizar as atividades que são capazes de realizar bem, no entanto, não podem fracassar por causa de atividades nas quais não têm experiência. Consequentemente, devem proteger os riscos nessas áreas.
O Risco
O risco pode ser definido como um acontecimento que, podendo ocorrer, terá um impacto negativo na concretização da missão e dos objetivos da organização. As oportunidades perdidas podem também ser consideradas como um risco. O risco refere-se à incerteza que rodeia eventos futuros e resultados. É a expressão da probabilidade e impacto (magnitude) de um evento com potencial para influenciar a realização dos objetivos da empresa.
Em finanças o risco é definido em termos de variabilidade dos retornos reais de um investimento em torno da rendibilidade esperada, mesmo quando esses retornos representam resultados positivos. A variabilidade dos resultados é a forma comum de expressar o risco.
Os riscos podem ser vistos como ameaças (significa que deve ser atenuado) ou oportunidades (significa que ter um risco calculado pode trazer vantagens).
- Consequências da Aversão ao Risco: toda a atuação no sentido de reduzir o risco tem também consequências diretas nos potenciais retornos dos negócios.
- Atuações de mitigação do risco: menor exposição, hedging, seguros, diversificação, análise aprofundada, etc.
Segundo o COSO (Committee of Sponsoring Organizations), a gestão do risco é “Um processo desenvolvido pela administração, gestão e outras pessoas, aplicado na definição estratégica ao longo da organização, desenhado para identificar potenciais eventos que podem afetar a entidade, e gerir os riscos para níveis aceitáveis, fornecendo uma garantia razoável de que os objetivos da organização serão alcançados”.
Existem diversos tipos de risco que passaremos de seguida a descrever.
Risco de Mercado
O risco de mercado é o risco associado a taxas de juro, taxas de câmbio, preços de ações e preços de commodities. É o risco de perdas devido a movimentos nos preços do mercado financeiro ou suas volatilidades. Está associado à oferta e a procura nos vários mercados. Embora se possa distinguir entre risco de taxa de juro risco cambial risco de mercado de ações e risco de commodities ao discutir questões de mensuração e gestão por exemplo, todos esses subtipos têm exposição à oferta e procura. Grande parte da evolução ocorrida no campo da gestão de riscos emanou da vontade de compreender e controlar os riscos de mercado.
Exemplo: Um conjunto de tomadores de risco de mercado com requisitos especiais para o risco de mercado são os fundos de pensões, que gerem os ativos de reformas sob rígidos regimes regulatórios. A gestão de risco dos fundos de pensões (carteira de investimentos) preocupa-se em financiar os pagamentos acordados com os participantes de planos de pensão, e portanto, deve medir as exposições ao mercado.
Risco de Crédito
Além do risco de mercado, o risco de crédito é o principal tipo de risco financeiro que os agentes económicos enfrentam. É o risco de perda causada pela falha da contraparte ou do devedor em fazer um pagamento acordado. As empresas não financeiras procuram eliminar o risco de crédito porque não é parte do seu core business. Esta definição reflete um conceito tradicional de risco de crédito, em geral incorporado pelo risco de incumprimento. Nos últimos anos os mercados de crédito assumiram cada vez mais as características associadas aos mercados de negociação em grande escala. À medida que esse padrão se foi desenvolvendo, as linhas entre o risco de crédito e o risco de mercado tornaram-se menos claras.
Por exemplo o detentor de um instrumento de crédito negociado pode sofrer uma perda como resultado de um desequilíbrio entre oferta e procura de curto prazo, sem que a probabilidade de incumprimento mude. Até à popularização dos derivados “Over the counter” (OTC), os gestores de carteiras de títulos e os gestores dos empréstimos bancários eram os principais interessados na gestão de risco de crédito.
Avaliavam o risco de crédito de várias maneiras, incluindo a avaliação qualitativa e quantitativa das empresas através da análise das demonstrações financeiras, do cálculo das pontuações de crédito e da confiança em informações que estão disponíveis para praticamente todos os devedores.
Risco de liquidez
Risco de realizar operações em mercados com baixa liquidez evidenciado por reduzidas transações e grandes spreads bid-ask (poucos compradores e/ou poucos vendedores) Neste contexto, devido à incapacidade potencial do mercado de acomodar de forma eficiente o montante da negociação pretendido, a venda de ativos empurra os preços para baixo e são vendidos abaixo do seu valor fundamental ou em prazos superiores aos esperados.
Por exemplo o risco de financiamento (o risco de que os passivos que financiam posições longas em ativos não possam ser renovados a um custo razoável) é um tipo de risco de liquidez, relacionada com a disponibilidade de caixa/meios líquidos. Pode ainda distinguir-se entre risco de liquidez de mercado e risco de liquidez de financiamento (refere se à incapacidade de cumprir obrigações de pagamento).
O risco de liquidez é um problema sério e frequentemente difícil de observar e quantificar. As avaliações de liquidez que deixam de considerar os problemas que podem surgir durante os períodos de stress do mercado são incompletas do ponto de vista da gestão de risco.
Risco operacional
É o risco de perda resultante de falhas (técnicas) ou insuficiências nos processos internos, sistemas e pessoas (fraude, erros de processo, etc) ou de eventos externos (exemplo catástrofes). Decorre de fatores como falhas no sistema de informação, nos sistemas de reporting nos processos operativos ou de insuficiências dos mecanismos de controlo interno.
As falhas informáticas são bastante comuns (incluindo bugs, vírus e problemas de hardware), mas o desenvolvimento de sistemas de backup e procedimentos de recuperação reduziu o seu impacto nos últimos anos. Bugs e vírus de tecnologia são potencialmente arriscados, mas são controláveis com uma equipa, software e sistemas adequados. Até as pequenas empresas aprenderam a fazer backup de arquivos e retirá-los das suas instalações. As empresas maiores têm práticas de gestão de risco de computadores muito mais abrangentes.
As falhas humanas incluem os erros não intencionais normalmente administráveis que ocorrem em todos os negócios, junto com incidências mais críticas e potencialmente desastrosas de má conduta intencional. A definição de risco operacional inclui perdas de eventos externos. O seguro geralmente cobre danos causados por incêndios, inundações, colheitas, e outros tipos de desastres naturais, mas fornece apenas uma compensação em dinheiro pelas perdas. Se uma inundação destruir a sala de negociação de um banco, o dinheiro recuperado provavelmente não chegará para pagar a perda de clientes que podem levar os seus negócios para outro lugar. Portanto, a maioria das empresas possui recursos de backup que podem ser ativados nesses casos.
Em alguns casos, as empresas gerem o risco operacional por meio de contratos de seguros que envolvem uma transferência de risco. Alguns tipos de contratos de derivados compensam por perdas operacionais (derivados de tempo e catástrofes), mas são pouco eficazes e o mercado ainda não se desenvolveu suficientemente.
A maioria das empresas gere o risco operacional monitorizando os seus sistemas tomando ações preventivas e tendo um plano em vigor para reagir se tais eventos ocorrerem.
Risco de modelo
O risco de modelo é o conjunto de possíveis consequências adversas derivadas de decisões baseadas em resultados e relatórios incorretos de modelos, ou no seu uso inadequado.
Por exemplo nos últimos anos observou-se uma tendência nas instituições financeiras de uma maior utilização de modelos para a tomada de decisões, impulsionada pela regulamentação, mas que se manifesta em todos os âmbitos da gestão (através de algoritmos estatísticos ou conjuntos de regras). Também se ampliou o uso de plataformas eletrónicas que executam de forma automática ordens de trading programadas sem intervenção manual (algorithmic trading).
Os modelos de avaliação de produtos ou instrumentos financeiros também estão disseminados (exemplos Black Scholes Monte Carlo CAPM etc). Se um investidor escolhe um modelo inadequado, interpreta mal os resultados ou usa dados incorretos, a probabilidade de perda aumenta ao mesmo tempo que o controlo sobre o risco é prejudicado. Portanto, os investidores devem analisar e validar objetivamente todos os modelos que utilizam.
Risco de liquidação
Os pagamentos associados à compra e venda de títulos em dinheiro, como ações e outros títulos, juntamente com as transferências em dinheiro executadas para swaps, forwards, opções e outros tipos de derivados, são chamados coletivamente de liquidações.
O processo de liquidação de um contrato envolve uma ou ambas as partes fazendo pagamentos e/ou transferências de ativos para a outra parte. Define-se risco de liquidação como o risco de que uma parte esteja em processo de pagamento da contraparte e ao mesmo tempo declare falência. Note-se que a liquidação também pode falhar devido a problemas operacionais mesmo quando a contraparte merece crédito, mas o risco, nesse caso, seria considerado um risco operacional.
A falência, no entanto, não ocorre com frequência. Além disso, na liquidação contínua em que, por exemplo, os pagamentos dos contratos de câmbio são executados simultaneamente, esse risco é mitigado.
Risco regulatório
É o risco associado à incerteza de como uma transação será regulada ou à possibilidade de mudanças nos regulamentos. Os mercados de ações, títulos, futuros e derivados negociados em bolsa são geralmente regulamentados. No que diz respeito aos derivados, as empresas reguladas de outras formas podem ter os seus negócios de derivados regulados de forma indireta. Os mercados regulamentados estão sempre sujeitos ao risco de o regime regulamentar existente se tornar mais oneroso ou mais restritivo. A regulação é uma fonte de incerteza.
Risco legal/contratual
Quase todas as transações, financeiras e não financeiras, estão sujeitas a alguma forma de lei contratual. Qualquer contrato tem duas partes, cada uma obrigada a fazer algo pela outra. Se uma parte deixar de cumprir, o contrato pode ser revogado, que pode envolver litígio especialmente se ocorrerem perdas significativas. Isto cria uma forma de risco legal/contratual a possibilidade de perda decorrente do incumprimento de um contrato no qual uma empresa tem interesses.
Risco fiscal
O risco fiscal surge devido à incerteza associada às leis fiscais. A legislação tributária que cobre a propriedade e as transações pode ser complexa e a tributação, por exemplo das transações de derivados, é uma área de ainda mais confusão e incerteza.
As decisões fiscais esclarecem os assuntos ocasionalmente mas noutras ocasiões confundem ainda mais. Além disso, a política tributária frequentemente falha em acompanhar as inovações por exemplo, nos instrumentos financeiros. Em alguns casos, as transações que parecem inicialmente isentas de tributação podem ser posteriormente consideradas tributáveis criando assim uma despesa futura.
O risco tributário é afetado por prioridades políticas e reguladoras. Muitas empresas investem recursos consideráveis na contratação de especialistas e consultores fiscais para controlar o risco fiscal. Exemplo deste tipo de risco são os vistos gold.
Risco contabilístico
O risco contabilístico surge da incerteza sobre como as transações devem ser registadas e a possibilidade de alterações nas regras e regulamentos contabilísticos.
As demonstrações financeiras são fonte fundamental de informações sobre as empresas, assim a lei exige demonstrações financeiras precisas e os relatórios financeiros imprecisos podem sujeitar as empresas e os gestores a litígios por fraude. O IASB define os padrões globais da contabilidade. Tem trabalhado em conjunto com o FASB (EUA) na convergência dos padrões contabilísticos, já que, historicamente, variam de país para país.
A maioria das empresas lida com o risco contabilístico contratando pessoas com conhecimentos contabilísticos atualizados. As empresas tendem a lutar contra as regras que exigem mais divulgação, argumentando que em si nem sempre é benéfica e pode envolver custos adicionais.
Riscos soberano e político
Pode-se isolar os riscos associados às alterações nas condições políticas nos países onde as empresas assumem exposições. O risco soberano é uma forma de risco de crédito em que o tomador do empréstimo é o governo de uma nação soberana.
A tarefa de avaliar o risco soberano é mais complexa do que a de avaliar outros tipos de exposição ao crédito, devido à componente político adicional envolvido. Além dessa avaliação, os credores devem ter em consideração outros aspetos (disposição do país para cumprir as suas obrigações de crédito, meios alternativos de financiamento (ajuda de entidades externas como o FMI, desvalorização da moeda, etc). A presença de risco soberano é significativa. Um exemplo disso são os efeitos do incumprimento da Rússia em 1998 cujo resultado foi uma crise financeira global ou a compra de dívida a outros países.
O risco político está associado a alterações no ambiente político. Pode assumir formas abertas (por exemplo, a substituição de um regime pró-capitalista por um menos virado ao mercado) ou subtis (por exemplo, o impacto potencial de uma alteração na liderança de um partido numa nação desenvolvida), e existe em todos os países.
Risco de negócio
Associado às escolhas (para criar vantagem competitiva e criar valor para os acionistas) efetuadas no âmbito da gestão da empresa. Definido como parte integrante do core business da empresa. Está ligado ao mercado específico em que a empresa opera, incluindo a procura, as inovações tecnológicas, design de produtos, marketing alterações no comportamento da concorrência, etc. É o risco de alterações nas variáveis de um plano de negócios. Podem ser identificados numa análise estratégica da empresa e alguns podem ser mitigados.
Quer saber mais sobre este tema?
Na Macro Consulting apoiamos a gestão da sua empresa de forma transversal com vista a garantir melhorias na performance operacional e financeira.
Com o nosso conhecimento em finanças, sistemas de informação, gestão de risco, operações e recursos humanos, trabalhamos em conjunto com a empresa para identificar oportunidades de melhoria nas mais diversas vertentes.