Como avaliar uma empresa ou negócio?
Elaboramos um artigo detalhado com tudo o que precisa de saber sobre avaliação de empresas ou negócios.
Resumo
Avaliar uma empresa ou negócio tem muitas particularidades e, cada vez mais, gestores e empreendedores procuram respostas para este problema.
Com o presente artigo, pretendemos expor os métodos mais utilizados para avaliar os projetos e fornecer ferramentas alternativas para que a seleção de uma opção de investimento seja estrategicamente favorável para qualquer empresa, bem como aprofundar a forma como um empreendedor pode avaliar o seu negócio, remetendo à temática de avaliação de investimentos.
As decisões de investimento são um tipo de decisão essencial para qualquer empresa e, por essa razão, torna-se importante aprofundar este tema e conhecer como este deve ser usado.
Neste artigo iremos abordar os métodos de avaliação tradicionais, bem como os métodos mais recentes, denominados de métodos científicos, sem esquecer algumas definições importantes e ligadas a esta vertente de estudo. Iremos ainda mencionar algumas formas de mitigação de risco e incerteza associados a um projeto de investimento.
Ao longo deste artigo, esperamos poder dar a conhecer a importância deste tema para qualquer gestor ou empreendedor, bem como os métodos de avaliação mais importantes e utilizados por empresas como a Macro Consulting.
Palavras-chave: Avaliação de Investimentos, Métodos Empíricos, Métodos Científicos, Projeto de Investimento, Indicadores de Avaliação, Risco e Incerteza.
1. Introdução
Embora haja algum debate sobre o período exato em que a primeira empresa ou serviço de avaliação surgiu, foi sem dúvida em meados de 1800, em plena Era Industrial. Assistíamos ao crescimento da imigração e empresas maiores começaram a formar-se à medida que a tecnologia avançava em comunicações, transporte e climatização, facilitando a concretização de tarefas para os trabalhadores.
À medida que essas empresas foram vendidas, contabilistas foram chamados pela primeira vez para estudar os documentos financeiros das empresas para determinar a sua precisão e o valor das suas projeções. Começando na costa leste dos Estados Unidos, foi aprovado no estado de Massachusetts uma lei em 1858 que exigia que um comissário calculasse as reservas potenciais de apólices para todas as empresas do estado que exigiam licenciamento, para garantir que fossem devidamente cobertas, se necessário.
A metodologia original utilizada foi o Net Level Premium Reserve Method e a experiência combinada das empresas, com base nas Taxas de Mortalidade Britânicas de 1843, e uma taxa de juros média de 4%. Desde então a metodologia base não mudou. Mudou somente os inputs, fatores de risco e gama de informações que são usados para calcular a avaliação final da empresa com base nas suas circunstâncias exatas. Mais tarde, como a formação do IRS exigiu uma melhor contabilidade e a década de 1920 trouxe isenções fiscais e compensações pagas às principais cervejarias e empresas similares pelo governo dos EUA, as circunstâncias certas estavam criadas para que outro ponto de vista se formasse.
Surge então o conceito revolucionário que uma empresa valia muito mais do que simplesmente os seus ativos menos os seus passivos ou apenas o seu património, os principais cálculos usados até então. Este desenvolvimento trouxe novos conceitos, incluindo o valor do lucro futuro e do goodwill no cálculo da avaliação da empresa.
Até a década de 1990, o trabalho de calcular o valor do negócio era feito fortemente por contabilistas, mas o desenvolvimento da internet e a Era da Informação estreitaram ainda mais essa especialidade às empresas consultoras.
À medida que o nosso mundo e mercados continuam a diversificar-se, podemos esperar uma maior especialização das empresas de avaliação de negócios com o passar do tempo. Como as avaliações de negócios permitem que vejamos exatamente onde estão os ativos e passivos das entidades e negócios, estas são vitais para o crescimento contínuo de qualquer empresa e tornar-se-ão um parceiro indispensável para empresas de sucesso em todo o mundo com o passar do tempo.
Atualmente a concorrência é intensa no mercado global e, por esta razão, as empresas detectam a necessidade de se destacarem neste grande mercado. O desenvolvimento de novas ideias de negócio e uma tomada de decisão consciente sobre investir ou não é, também, uma forma de se poder criar riqueza e gerar proveitos para o investidor. Todas as decisões de investimento são orientadas por um princípio fundamental: a criação de valor. Isto é, apenas os investimentos que permitam gerar valor para a empresa deverão ser concretizados de modo que estes contribuam para o aumento da riqueza dos seus investidores.
2. Projetos de Investimento
O que é um projeto de investimento?
Um projeto de investimento consiste numa proposta de aplicação de recursos escassos, para que possibilite o aumento ou melhora da produção de um determinado bem ou serviço ou, por outro lado, diminuir eventuais gastos de produção. Assim, este processo deve ter em conta toda a informação relevante para uma tomada de decisão adequada.
A primeira fase consiste na identificação de uma oportunidade no mercado e na forma como este negócio será inserido no mercado.
Segue-se a fase da preparação que agrega o estudo da viabilidade comercial, viabilidade técnica e viabilidade financeira, isto é, uma análise do enquadramento institucional e de todos os aspetos jurídicos, políticos, económicos e financeiros que se mostrem relevantes.
A terceira etapa diz respeito à análise económica e financeira, ocorrendo no âmbito das opções estratégicas da empresa e consiste na análise da viabilidade económico-financeira do projeto, através da utilização de modelos teóricos e de alguns indicadores que serão expostos mais à frente.
A quarta etapa corresponde à tomada de decisão por parte dos investidores, baseado nos indicadores de avaliação. Esta fase é essencial visto que é nesta fase que é decidido se devemos avançar com o projeto.
Por último, na quinta etapa, encontra-se o controlo da implementação do projeto, onde se pode verificar se o projeto está a cumprir os requisitos delineados em tempo útil.
Em suma, a planificação de um projeto de investimento é um processo interativo que exige um conjunto de esforços de diferentes áreas tais como contabilidade, finanças, marketing e estratégia empresarial.
3. Indicadores de Avaliação
Os indicadores de avaliação de investimentos subdividem-se, essencialmente, em dois grupos:
- Métodos tradicionais/empíricos
- Métodos atuais/científicos
Os métodos empíricos são constituídos pela taxa média de rendibilidade contabilística (ROI) e pelo Prazo Médio de Recuperação do Investimento (PMRI).
Como métodos científicos, também conhecidos como métodos neotradicionais, destaque para o Valor Atual Líquido (VAL), a Taxa Interna de Rendibilidade (TIR), o Índice de Rendibilidade do Projeto (IRP) e o Payback.
Passamos de seguida a descrever cada um destes.
3.1. Métodos empíricos
São os métodos que têm como base a utilização de indicadores contabilísticos, dependendo somente de procedimentos ligados à contabilidade. Destacamos de seguida os principais.
3.1.1. ARR (Accounting Rate Of Return)
Este indicador representa a taxa de rendibilidade relativa ao custo do investimento, sendo também conhecido como Taxa de Retorno do Investimento (ROI). Neste caso, aceitam-se projetos que possuam uma Accounting Rate Of Return igual ou superior à taxa previamente fixada.
Este indicador é bastante fácil de calcular e de fácil compreensão, o que o torna vantajoso nesse sentido.
ARR = Resultado Líquido Médio / Valor Contabilístico Médio do Investimento
3.1.2. PMRI (Período Médio de Recuperação do Investimento)
Trata-se de um indicador que mostra o número de anos necessários para recuperar o investimento inicial. Este tem como base os fluxos financeiros dos projetos de investimento. O projeto deve ser aceite sempre que este indicador seja inferior ao fixado. Quanto maior for o PMRI, maior será o risco.
PMRI = Despesas Totais de investimento / Meios Libertos Líquidos Anuais Médios
No entanto, importa salientar que estes métodos de avaliação ignoram o valor temporal do dinheiro, sendo uma desvantagem.
3.2. Métodos Científicos (Neotradicionais)
Estes métodos são os mais comuns para avaliar um negócio, uma vez que têm em consideração o fator temporal, permitindo comparar fluxos financeiros que se prevê que ocorram num determinado momento.
3.2.1. VAL (Valor Atual Líquido)
“(…) um investimento viável proporciona aos acionistas, em termos previsionais, uma taxa de retorno superior à exigida, por virtude da criação de um excedente de riqueza (valor) no montante do VAL.”
(Decisões de Investimento, 2015).
O VAL tem como objetivo avaliar a viabilidade de um projeto de investimento, através do cálculo de todos os seus cash-flows atualizados. É, provavelmente, o indicador mais utilizado em estudos de análise de viabilidade económico-financeira. Este indicador apresenta três formas simples de decisão:
- VAL inferior a zero: O projeto não é viável pois não apresenta rentabilidade para recuperar o investimento;
- VAL igual a zero: O projeto permite recuperar o investimento, mas não acrescenta valor pelo que é indiferente investir ou não investir;
- VAL superior a zero: O projeto é viável na medida em que permite a recuperação do investimento e gera um excedente financeiro associado.
O VAL corresponde à soma dos valores esperados para os cash-flows, descontados para o momento atual.
A fórmula de cálculo é a seguinte:
onde:
t = tempo
n = vida útil do projeto
i = custo de oportunidade do capital
3.2.2. TIR (Taxa Interna de Rendibilidade)
Este indicador é também conhecido como IRR (Internal Rate of Return) na literatura estrangeira.
No que diz respeito ao critério da TIR, o investimento deve ser efetuado sempre que a TIR seja superior à percentagem do custo de oportunidade de capital (WACC). A TIR beneficia os projetos de menor dimensão, uma vez que as maiores taxas deste indicador são observadas em projetos de curta duração. É calculado da seguinte forma:
Quanto mais elevada é a TIR, maior a rentabilidade do projeto. Graficamente, a TIR representa-se da seguinte forma:
3.2.3. IRP (Índice de Rendibilidade do Projeto)
Mede a rendibilidade gerada por cada unidade de capital investido, sendo o projeto considerado economicamente viável quando o IRP é superior à unidade.
Este indicador é bastante vantajoso pelo facto de ter em conta a dimensão do projeto, sendo recomendado em casos de restrições financeiras a novos investimentos.
O IRP permite colmatar a insuficiência do VAL ao relativizar o seu valor, pois consegue-se saber quantas vezes é que se multiplica o capital investido durante o período considerado. Ou seja, este possibilita determinar o número de vezes que o capital investido é recuperado. Ainda assim, salientar que o IRP trata-se de uma medida relativa e o VAL de uma medida absoluta.
A sua fórmula de cálculo é a seguinte
Onde,
CFt = Cash Flow no momento t
It = investimento no momento t
t = tempo
i = custo de oportunidade do capital
3.2.4. Payback
Trata-se do período de recuperação de um determinado projeto, ou seja, o cálculo de em quanto tempo (anos, meses e dias) está previsto recuperar o investimento.
Este indicador é também citado em algumas fontes como PRI (Período de Recuperação do Investimento). Pode ser comparado com o período de tempo de recuperação do investimento considerado aceitável pelos impulsionadores do projeto. Assim, é essencial referir que os projetos devem ser rejeitados se se verificar que o período de recuperação é superior à vida útil do projeto.
A sua fórmula de cálculo é a seguinte:
Este método tem como desvantagens:
- Não encarar o valor do dinheiro no tempo no método não atualizado (Payback normal);
- Não possibilita tomar decisões sobre a viabilidade do projeto sem que se defina uma vida padrão;
- Não atende aos CF gerados em períodos decorrentes à recuperação do capital;
- Dificuldade em lidar com investimentos em que não se verifiquem investimentos iniciais.
De seguida, apresenta-se um quadro síntese com toda a informação referida anteriormente, no que concerne aos métodos de avaliação:
A escolha entre o VAL e a TIR
Há momentos em que o resultado obtido entre estes dois indicadores são contraditórios, isto é, o VAL clarifica que o projeto é economicamente viável e a TIR mostra que deve ser rejeitado o projeto de investimento ou vice-versa.
Nestes casos, importa referir que o VAL evidencia “o valor financeiro que o projeto gera”, enquanto a TIR “apenas mostra uma rendibilidade“. Neste sentido, deverá ser dada prioridade ao primeiro indicador uma vez que nos mostra o valor real da riqueza que irá ser criada com a realização do investimento.
Não havendo restrições de capital nem oscilações na taxa de desconto e sendo o objetivo do promotor a maximização da riqueza, então em caso de dúvida deve ser escolhido o que tem maior VAL.
Por fim referir que estes dois indicadores são complementares. No entanto, o VAL é o mais fiável indicador de todos os métodos neotradicionais.
4. Métodos de Avaliação
Existem vários métodos de avaliação que permitem determinar o valor de um negócio. A este nível, damos particular destaque aos seguintes modelos de avaliação:
- Discounted Cash Flow (Método dos Fluxos de Caixa)
- Múltiplos do EBITDA
- Valor Patrimonial
Passamos de seguida a apresentar em mais detalhe cada um destes.
4.1. Discounted Cash Flow
No que respeita ao Discounted Cash Flow (Método dos Fluxos de Caixa Descontados), este permite avaliar a riqueza económica de uma empresa determinando o valor de acordo com a sua capacidade de trazer retorno para o acionista.
O método consiste, de forma genérica, no somatório dos cash flows descontados, seguindo a lógica do VAL acima mencionado.
Neste método, pode, eventualmente, ser feita uma dupla abordagem. Essa dupla abordagem utiliza o valor residual (terminal value) através da aplicação de duas formas de cálculo distintas:
- Método da perpetuidade
- Método do múltiplo de saída
4.1.1. Método da perpetuidade
Permite o cálculo do valor de uma empresa considerando os múltiplos fluxos de caixa de forma perpétua. A perpetuidade diz respeito à geração de valores de maneira eterna, considerando intervalos regulares.
Neste método, torna-se fundamental calcular o valor residual da empresa, bem como a perpetuidade. Ao nível do valor residual, referir que este resulta da aplicação da média de FCFF apurados entre os períodos em análise. A perpetuidade é calculada através da aplicação da seguinte fórmula:
Em que a variável “g” é a taxa de crescimento perpétuo dos cash flows na perpetuidade.
De forma a calcular o valor da entidade através deste método, recorre-se à seguinte fórmula:
Após recorrer a este cálculo para os anos alvos desta análise, procede-se ao cálculo do Discounted Cash Flow (com perpetuidade) através do somatório dos valores atualizados (calculados de acordo com a equação anterior).
4.1.1. Método do múltiplo (saída)
Este método assenta na ideia de que o valor de um negócio será determinado no final de um período projetado, com base nas avaliações de mercado público existentes. O cálculo do valor da entidade, através do Método do Múltiplo (saída) é, na fórmula de cálculo, muito similar à fórmula do Discounted Cash Flow acima apresentada, sendo que a única diferença passa pela utilização de um múltiplo de saída em vez da perpetuidade, conforme fórmula abaixo:
No que concerne ao Múltiplo de saída, referir que é usual utilizar o indicador EBITDA multiplicado por um múltiplo gerado conforme o setor de mercado por forma a encontrar o valor da empresa. Uma vez que considera a percentagem de recursos que a entidade gera através da sua atividade, permite medir a produtividade e a eficiência dos seus processos, auxiliando na venda, mas também na gestão da empresa.
De forma a determinar o valor da empresa, procede-se à média de todos os EBITDA gerados e multiplica-se pelo EV/EBITDA múltiplo. Esta trata-se de um múltiplo que demonstra a relação entre o valor da firma (EV) e o lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (EBITDA), tentando entender quantos anos de lucro operacional o mercado está disposto a pagar pelo valor total da entidade.
4.2. Múltiplo do EBITDA
Trata-se de um modelo de avaliação de empresas bastante utilizado, tendo como base o EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) futuro esperado, multiplicando-o pelo múltiplo gerado pelo setor de mercado onde a empresa está inserida.
A fórmula de cálculo utilizada é a seguinte:
De acordo com este método de avaliação de empresas, uma empresa vale o EBITDA vezes um múltiplo, logo quanto maior o valor do EBITDA mais valorizada será a firma.
De forma a determinar o valor da empresa, procede-se à média de todos os EBITDA históricos, e multiplica-se pelo EV/EBITDA múltiplo apurado para efeitos de avaliação da empresa.
4.3. Valor Patrimonial
Segundo este método, para calcular o valor da empresa tem-se como base a avaliação do seu património líquido. Assim, para se obter este valor, soma-se todos os ativos correntes (tais como caixa e valores a receber de clientes) com não correntes (como os equipamentos básicos) e subtrai-se todas as dívidas e obrigações que constam no seu passivo corrente e não corrente.
Importa referir que esses mesmos passivos e ativos devem ser ajustados de eventuais revalorizações possíveis.
Em síntese, o valor patrimonial de uma empresa é igual ao capital próprio valorizado da empresa.
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