Introdução
A combinação entre família e negócio é, muitas vezes, difícil de gerir, uma vez que está presente algum tipo de conflito de interesses. Fazer com que a família se organize de forma formal tanto com todos os órgãos como com processos de governance é uma tarefa hercúlea. Discutir assuntos sensíveis e lidar com emocionalidades complexas torna-se mais fácil e produtivo após esta adaptação.
Tem sido cada vez mais comuns empresas familiares fecharem portas e esta situação pode dever-se, essencialmente, à falta de uma boa estrutura organizacional, e da implantação da departamentalização, pois, por ser uma empresa familiar, é muito comum não existir uma hierarquia administrativa, e todos os membros delegarem funções e tomar decisões importantes.
Existem algumas definições que ilustram este conceito, mas, uma vez que em Portugal 99% das empresas são Pequenas e Médias Empresas, acredita-se que para o presente artigo a melhor definição das empresas familiares foi definido pela European Commission (2009), uma vez que teve em conta a dimensão destas organizações na criação desta definição:
“uma empresa, qualquer que seja a sua dimensão, é uma Empresa Familiar, se:
- A maioria dos direitos de voto for detida pela(s)or pessoa(s) singular(es) que estabeleceu(eram) a empresa, pela(s) pessoa(s) singular(es) que tiver(erem) adquirido o capital social da empresa, ou na posse dos seus cônjuges, pais, filhos ou herdeiros diretos dos filhos.
- A maioria dos direitos de voto pode ser direta ou indireta.
- Pelo menos um representante da família ou parente consanguíneo estiver envolvido na gestão ou administração da empresa.
- As sociedades cotadas incluem-se na definição de Empresa Familiar se a pessoa que estabeleceu ou adquiriu a empresa (capital social) ou as famílias desta, ou seus descendentes, possuem 25% dos direitos de voto correspondentes ao respetivo capital social.”
Em suma, as empresas familiares são aquelas em que uma família detém o controlo, tendo o poder de nomear a gestão e, além disso, alguns dos membros desse seio encontram-se a operar nessa entidade. Estas podem ser entendidas como um híbrido contextual, isto é, uma combinação única de dois conjuntos distintos de regras, valores e expectativas: os da família e os da empresa.
A gestão nas empresas familiares
O facto de uma entidade ser do tipo familiar, pode tornar-se uma desvantagem perante os concorrentes, devido a potenciais conflitos de interesses, logo é crucial saber como gerir este tipo de empresas de forma a mitigar este imbróglio. Assim sendo, é importante que a gestão deste tipo de entidades seja similar à das empresas não familiares. É verdade que as empresas com gestão familiar são cruciais para o mercado, uma vez que geram emprego, além de contribuírem para o crescimento do país e da região na qual está inserida, porém, de acordo com vários estudos, essas empresas precisam ter uma boa administração organizacional, para que a mesma obtenha êxito em seus negócios
Muitas vezes, as empresas deste tipo acabam por ter uma certa dificuldade no que toca à sua gestão pelo facto que existir uma certa centralização de poderes, ou seja, elas precisam de seguir determinadas regras impostas pelo governo, cumprir a legislação e a regulamentação que o mercado de capitais exige. Não obstante, em contrapartida, existe a disputa familiar entre os membros, onde uns querem liderar mais que os outros, ou tomar decisões importantes sem consultar o resto da família. Isto acontece porque, grande parte das vezes, estas pessoas não conseguem separar os assuntos familiares dos assuntos do negócio, levando a grandes erros na gestão destas organizações.
As empresas familiares tendem a utilizar de forma menos exaustiva os controlos de gestão, havendo um maior sentimento de confiança entre os membros da empresa, não existindo assim a sensação de que necessitam tanto destes como uma empresa não familiar, onde não há conexão entre pares ou sensação de segurança e lealdade entre gestores e funcionários. Deste modo, os gestores destas empresas não sentem a necessidade de implementar controlos muito rígidos e formalizados para que a empresa prospere e atinja as metas propostas. Por outro lado, as tomadas de decisões por parte desta empresa acabam por ser mais ponderados, uma vez que o receio pela imagem da entidade é maior pois acaba por comprometer o nome da família.
Na verdade, as empresas familiares que se mostram mais bem-sucedidas são as que ajustam na sua gestão uma combinação entre membros da família e gestores não-familiares. Os intervenientes não familiares apresentam ferramentas mais competentes, não dominadas pela família, sendo um fator bastante vantajoso para a gestão deste tipo de empresas. Por outro lado, os intervenientes familiares acabam por apresentar um maior sentimento pela empresa por ser algo que algumas gerações, algo contruído por essa mesma família.
Existem algumas características e determinantes para o estilo de gestão das empresas familiares, sendo as principais mencionadas abaixo:
- Decisões pautadas em fatores emocionais: muitas vezes torna-se difícil penalizar algum membro da família ou até chamá-lo a atenção, levando a que o vínculo sanguíneo possa atrapalhar na hora de tomar alguma decisão.
- Dificuldade na descentralização: nas empresas familiares, geralmente, os cargos mais altos estão concentrados nos seus fundadores, o que pode acabar por ser um imbróglio no momento da sucessão. Com os anos, essa prática vai ganhando cada vez mais força, acabando por desenvolver uma espécie de cultura institucional, o que é extremamente prejudicial, já que o mercado requer dinamismo e agilidade.
- Lealdade e dedicação como critérios de recursos humanos: muitas vezes, os sistemas de recompensas não se encontram adequados à realidade da empresa, podendo causar desgaste de algumas áreas e a diminuição ou estagnação da produtividade.
- Confiança mútua: por norma, as pessoas escolhidas para cargos elevados e estratégicos acabam por se orientar pela emoção e confiança o que pode desencadear, posteriormente, um desempenho não tão eficaz, já que o essencial seriam escolhas realizadas através da competência.
- Existência de conflitos: um grande problema neste tipo de empresas é o conflito entre gerações, onde muitas vezes as ideias não seguem uma mesma linha de pensamento e os sucessores querem traçar uma nova perspetiva produtiva ou funcional que se adeque ao período em que vivem.
- Perfil do sucessor: muitos erros cometidos pelo gestor é que o seu sistema de gestão é o único adequado à empresa. Desse modo, não há uma análise minuciosa sobre o cenário mais atual em que se encontra a empresa, uma vez que o gestor está somente focado na sua ideologia.
Desafios da Gestão de Empresas Familiares
É verdade que as entidades familiares se deparam com bastantes obstáculos/desafios ao longo da sua governação, sendo a sua identificação e explicitação bastante importantes, por forma a evitar potenciais falhas futuras da responsabilidade destas famílias.
1. Profissionalização da família
De acordo com a PwC, 41% das empresas familiares pretendem passar a gestão do negócio para a próxima geração.
No entanto, passar todas as responsabilidades para um familiar, por norma, mais jovem, é uma tarefa bastante importante e desafiadora, pois é crucial que toda a mensagem seja bem passada, para que a empresa não perca os seus valores.
Antes de transmitir esta responsabilidade para outra pessoa, é essencial ter a certeza que esta é capaz de assumir tal responsabilidade e de gerir o negócio.
2. Atração de talentos
Nos recursos humanos deve estar alguém qualificado para tal, de modo que as pessoas recrutadas de mostrem aptas para cumprir as suas tarefas.
É necessário ter em conta que as tendências nesta área estão em constante mudança e que, cada vez mais, existem ferramentas mais modernas para auxiliar neste processo.
Assim sendo, é importante entender que são necessárias pessoas nesta posição com habilitações e conhecimentos novos. Não obstante, é importante recrutar pessoas fora do seio familiar para que estas vejam as situações de uma forma menos emocional e mais assertiva, trazendo consigo novas ideias.
3. Inovação
Tal como é afirmado por vários autores, o fator inovação é crucial para manter a continuidade da empresa e o seu sucesso.
Quando se verifica que uma empresa é gerida como uma família, isto é, voltada para o emocional, é quando se identifica a necessidade de uma reestruturação.
Em suma, uma gestão familiar não tem em vista as estratégias de mercado, e isso acaba por originar um desempenho muito aquém das empresas organizadas/profissionalizadas.
4. Adaptação à tecnologia
É essencial acompanhar as novas tendências tecnológicas, de forma a reconhecer os meios mais modernos para proporcionar uma melhor gestão da entidade.
Com a adoção da tecnologia o planeamento estratégico pode melhorar o crescimento empresarial, já que a atualização e abertura ao uso de ferramentas modernas fornece maior oportunidade de destaque no mercado extremamente competitivo como o que se apresenta atualmente.
5. Controlo das emoções
Com uma família a gerir uma entidade, tona-se difícil separar as emoções da empresa, pois muitas vezes são sacrificados momentos importantes da vida para haver dedicação à empresa.
No entanto, todas as pessoas sentem, vivem e pensam de maneira diferentes, e isso acontece mesmo no seio familiar, levando a desacordos entre os membros.
Mesmo nas entidades mais bem-sucedidas, os desentendimentos são comuns, especialmente pela liberdade para discutir, que se mostra sempre maior entre pessoas do mesmo sangue ou com ligação familiar.
Conclusão
É importante que o gestor das empresas familiares tenha em mente que esta deve ser gerida como se se tratasse de uma empresa não familiar.
Isto deve acontecer, uma vez que, tal como já foi explicitado, a gestão destas entidades deve estar neutra de qualquer tipo de conflito de interesses ou de qualquer emoção familiar.
Só desta forma é que a organização é levada com sucesso, sem que seja permitido erros ou falhas que sejam desencadeadas pelos laços familiares existentes na empresa.
Além disso, é importante abrir portas a novos talentos, ideias e conhecimentos, e não se restringir somente à família.
Acontece que, uma vez que as famílias acabam por estar focadas na forma como a empresa foi gerida ao longo dos anos por outras gerações quando, por vezes, é crucial implementar medidas e ferramentas novas para evoluir e ter recursos necessários para fazer face à concorrência elevada e a todas as adversidades internas e externas à entidade.
Fontes:
- https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/30444/1/Catarina%20de%20Sousa%20Regateiro.pdf
- https://blog.exed.novasbe.pt/artigos/gestao-de-empresas-familiares-uma-magia-dificil-de-replicar
- https://rhmagazine.pt/empresas-familiares/
- https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos15/27122309.pdf
- https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/18432/1/Beatriz_Gamito_MA_2021.pdf
- https://blog.runrun.it/gestao-de-empresas-familiares/
- https://www.revistaespacios.com/a17v38n13/a17v38n13p19.pdf
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